Um sonho que tomou forma

Finalmente, o observatório está usável!

É um sonho que toma forma real.

Lembro que meu primeiro contato com a astronomia foi com a visualização do Halley em 86 (eu tinha 5 anos na época). Meu pai me acordou de madrugada, abriu a janela do quarto e apontou uma manchinha bem fraquinha no céu e disse "olha lá, entre aqueles fios de luz, aquela fumacinha. Aquele é o cometa Halley, e só vai aparecer de novo daqui 70 e poucos anos".

Aquilo me deixou a pensar... o que era aquilo? E porque demoraria tanto tempo para aparecer novamente?

Mais algumas vezes, meu pai me impulsionou no caminho certo. Lembro de algumas vezes ele arrastar um colchão (para o pavor da mãe) e colocar no pátio dos fundos, para observarmos estrelas cadente.

Quando tinha uns 12 anos, encontrei alguns livretos sobre astronomia em sua coleção de livros. Eram fascículos sobre o universo, planetas, nebulosas, e como os observar. (Não recordo o nome, mas irei pesquisar!) Lembro de duas partes que me atiçaram a imaginação: uma era como a nebulosa de Orion era vista a olho nu, com binóculos, pequeno telescópio (60mm) e grande telescópio (150mm). Incrível! Eu queria ver aquilo! E a outra era a mesma simulação, mas com saturno!

Aos 14 anos, fui na biblioteca pública de Novo Hamburgo e li tudo que havia disponível sobre telescópios e astronomia. Com isso descobri que para fazer um telescópio, bastavam duas lentes e um tubo!

Foi eu em uma ótica encomendar uma lente de 60mm e 1 metro de distância focal! A lente ocular eu tinha, era uma de 25mm de uns 50mm de distância focal.

Meu primeiro telescópio foi um feito de tubo de papelão grosso... quando apoiei na janela do quarto e apontei para o céu, me maravilhei, pois conseguia ver muuuito mais estrelas que a olho nu!

O primeiro aglomerado que "descobri" por acaso foi o falso cometa em escorpião, NGC6231!

Um ano depois consegui com que um ótico da cidade fizesse um "dubleto" de 75mm. Eu só não sabia que precisavam ser de tipos de vidro diferentes para servir para alguma coisa.

Era amarrado em tripé para microfone! Não durou muito tempo assim, pois era muito instável!

Até que enchi o saco de minha mãe para que ela comprasse um tripé fotográfico! Esse sim, mudou a observação! Muito mais estável, muito prático mesmo. Não era o bicho, sofria de aberração cromática violenta, qualquer brisa o fazia oscilar demais!

Mesmo assim, serviu durante muito tempo na exploração do céu!

Uns dez anos depois construí um refletor de 8", mas não consegui aproveitar muito, vivendo e apartamento no centro da cidade, sem carro, o bicho pesadooo... ficou muito tempo encostado até que vendi.

E então chegou o Genghis Khan, o GSO de 12" que já trouxe muitas felicidades ao seu dono anterior!

E hoje, está instalado!

Ainda faltam os acabamentos menores, mas já está funcional!

Aproveitei alguns móveis usados que iriam para o lixo e construí uma mesa para o computador:

Tem uma gaveta para equipamentos também.

E uma prateleira para oculares e filtros em uso (com borda, claro!)

Agora é esperar escurecer para tentar alinhar a montagem equatorial!

Que venham noites escuras e céus transparentes, pois o Observatório Eimer Sternen está ONLINE!

Construção do observatório - 10

Hoje terminei a porta e instalei ela. É apenas questão de fazer um retângulo de madeira, reforçar no meio e tampar com as tábuas de forrinho.

Ainda está sem fechadura, mas instalei um trinco pelo lado de fora.... e fiquei preso por dentro, ahahah. Preciso de uma fechadura!

Esse é o Fred, o meu gato assistente (que acha que é transparente).

Na hora de colocar o piso, usei um saco e meio de cimento cola pronto (só adicionar água). Guardei meio saco para os arremates dos cantos. Ainda tenho que aprender a cortar o piso sem serra, pois não tenho!

E piso finalizado!

Ficou feio? SIM! 

Me importo? NÃO! ehhehe. 

Foram usados restos de outra obra, por isso a mistura (e por pouco não foram 3 tipos!).

Agora aguardar curar o cimento por 2 dias para poder colocar o rejunte e limpar! Tá quase!

Construção do observatório 9

Alguns detalhes do madeiramento externo foram concluídos, com o fechamento das aberturas frontais.

A janela para alinhamento polar foi feita e já colocada no lugar!

Só falta o acabamento nos cantos e na janela.

A porta foi começada também!

Aqui é a vista do observatório com o telhado aberto. Apesar dele pesar uns 200 kg para mais, dá para abrir com dois dedos, pois as polias são rolamentadas e os trilhos bem engraxados!

Construção do observatório - 8

Hoje foi o dia de terminar o telhado e erguer as paredes!

Cumeeiras instaladas! Vamos ver o quanto de goteiras vai dar, ehhehe.

Com o telhado terminado, parti para as paredes. Haja parafusos!

Primeira parede pronta! Vai bem rapidinho e é bem fácil instalar!

Segunda parede pronta!

Terceira parede pronta, com abertura para alinhamento polar (vai ser feito uma janela que abre para fora).

Continua...

Construção do observatório - 7

Hoje foi o dia de colocar as telhas!

Tarefa miserável (não consigo subir encima por causa do peso, espaços miseravelmente pequenos entre as telhas e as tesouras para colocar as cumeeiras, inexperiência...)

Mas até que está indo legal!

Calculando o distanciamento das telhas:

Depois de instaladas as telhas, cortei o excesso com serra tico-tico, deixando 15cm de avanço.

Martelada no dedo (depois dessa. larguei de mão os pregos para telhas e voltei aos bons e seguros parafusos).

Telhas já instaladas, com algumas cumeeiras no lugar já!

Amanhã espero terminar o telhado e iniciar as paredes,  pois há previsão de chuva para terça de noite, quarta e quinta-feira, mas estando fechado, posso fazer o piso.

E segue o baile!

Construção do observatório - 6

Hoje fiz a estrutura do telhado!

Comecei erguendo o poste central, onde as tesouras são apoiadas:

Depois é só ir colocando as tesouras em espaços regulares (que deve ser medido de acordo com a telha usada):

Depois, é feito o travamento das tesouras, e instalado dois caibros cruzados, para dar estabilidade:

E na hora do teste, só alegria, o telhado desliza suavemente!

Agora está pronto para receber as telhas!

Construção do observatório - 5

Hoje, apesar da manhã inteira chovendo, consegui adiantar algumas coisas!

Instalei o resto do madeiramento para onde o telhado corre:

Ainda faltam as mãos francesas que irão dar rigidez ao trilho onde correrá o telhado.

Foi comprado duas barras de seis metros de perfil V de 1" em uma metalúrgica, ao custo de R$ 8,50 o metro. Eles são seguros no lugar com parafusos com arruelas grandes, dispostos em V. 

É muito importante que a distância entre os trilhos seja sempre igual, do começo ao fim, para evitar o risco do telhado sair do trilho por falta de alinhamento!

Serão usadas 4 polias em V, de portão de garagem, rolamentadas. Cada uma custa R$ 8,00. Encomendei com o suporte, que aceita dois parafusos de cabeça sextavada de 8mm autoatarraxantes. A distância entre eles deve ser bem medida também para evitar problemas no telhado.

E no final da tarde consegui montar o esqueleto inferior do telhado, testando se desliza sem trancar ou sair dos trilhos.

SUCESSO!

E continua!

Construção do observatório 4

Hoje consegui finalizar o contrapiso!

Vai ficando mais fácil conforme você vai aprendendo a textura do concreto (é bem mais fácil trabalhar com ele semi-líquido, facilita o esquadrinhamento com a régua e o acabamento fica bem melhor).

Durante a noite o meu gato (ou os gatos da vizinhança) resolveram sapatear por cima do concreto fresco, hehehe. Tem várias pegadas, mas não tem problema, serão cobertas pelo piso cerâmico posteriormente.

Após o piso concluído, comecei a fazer as armações em madeira:

Acabei o madeiramento do lado virado para a construção da direita da foto, ali ficará a porta.

Na parede da frente que é virada para o sul, farei uma janela simples para poder fazer o alinhamento polar da montagem!

E a estrutura básica está (quase) completa!

Toda a estrutura foi parafusada. Primeiro foi aberto um furo com furadeira com um tamanho de 1,5mm menor que o parafuso. 

Os parafusos foram passados em um bloco de sabão de glicerina e parafusados (isso ajuda MUITO na hora!)

Uma parafusadeira é 110% recomendada, não seria possível fazer tudo com parafuso usando chave de fenda o philips (a não ser que o sujeito seja muito masoquista!)

Construção do observatório - 3

Hoje consegui que um cara de uma serralheria local viesse e cortasse os postes dos cantos na altura correta!

R$ 10,00 bem gastos!

Foi batido o nível dos postes e serrados todos na mesma altura!

Agora é hora da parte braba.... fazer o contrapiso!


Força no muque que já estão doendo!

O terreno foi alisado, com o excesso de terra espalhada e bem socada (com um pilão de aço que pesa uns 20 Kg - academia para que? - visto no canto esquerdo da foto).

Brita espalhada e nivelada. Foram 3 carrinhos de mão com 12 pás de brita cada um.

Agora é a hora de fazer força, vamos mexer um concreto no braço!

(Contabilizei 2kg a menos hoje, desde o começo da construção! Astronomia também é saúde!)

Quase metade do contrapiso já foi! (junto com os braços e as costas, ehhehe).

E vamos que vamos!

Construção do observatório - 2

E segue a construção!

Os quatro buracos para os pilares foram escavados, e os pilares foram colocados e apoiados, para que fiquem bem nivelados na hora de concretar:

Após os postes assentados, foram concretados no lugar e deixado para curar por 24h:

No outro dia, foi concretado o alicerce:

Foi deixado um dia para curar.
Depois foi a vez dos tijolos:

Ô trabalho cansativo! Estou com os braços, pernas e costas moídos (também, nunca fiz esse tipo de coisa na vida... mas também serve de lição que fazer um observatório (ou ao menos a base de um) não é um bicho de sete cabeças!

Na finaleira do assentamento dos tijolos, faltando apenas um para assentar, me lembrei de colocar um conduíte para que o observatório tenha luz!  Bem lembrado e no fechar da cortina!

(Sim, essa camada de tijolos ficou de lado, pois por uma empolgação na hora de concretar o alicerce, fiz ele alto demais, ehhehe). Para que tudo fique nivelado, tive que colocar eles de lado.... vivendo e aprendendo!

Pensamento do dia:  "Se depender de mim, nunca viverei de virar cimento no braço e assentar tijolos"

Nunca na vida me imaginei assentando tijolos, virando cimento no braço!

E segue o baile!

Início da construção do Observatório

Hoje se deu início a construção do Observatório Eimer Sternen!

O projeto será baseado em dois observatórios, sendo que apenas um conheço pessoalmente.

O Observatório Parsec, de Avaní Soares:

Esse é um projeto clássico e muito bem acabado de um observatório do tipo Roll Off Roof (telhado que rola para fora).

O projeto será baseado (livremente) no de Keith Ehren (Astrosoft):

Usarei alguns pontos interessantes de cada um. 

No observatório Parsec, o piso é concretado com porcelanato no chão, com base elevada para a montagem equatorial, já no do Ehren, ele usou piso elevado de madeira com píer central, pois usa um telescópio do tipo Schmidt-Cassegrain.

Farei ele com uma altura de 1,60m do piso até a borda rolante do telhado, para ter uma visão de ao menos 25° sobra os horizontes (exceto o leste, devido a proximidade com uma outra construção).

Ele ficará orientado na direção leste - oeste, com o telhado correndo em direção oeste (se fizesse a norte-sul, ocuparia uma parte importante do pátio.... e não consegui negociar isso hehehe).

Bem, os dois primeiros buracos foram cavados já!

Os buracos terão 30cm de profundidade em relação ao nível mais baixo da sapata de concreto. Mais 10cm de concreto, mais 20 cm de tijolos para o piso.

Aguardem o desenvolvimento!

Ocultação de saturno pela lua

Nas primeiras horas do dia 08/07/2014, a lua ocultou saturno, evento que só pode ser observado na região mais ao sul do Brasil.

As fotos foram feitas pelo método afocal, usando o GSO de 12", ocular Orion Sirius Plössl de 10mm e uma câmera Sony Cybershot DSC-S3000 em modo automático:

Finalmente!

E finalmente chegou, o grande astro do Observatório Eimer Sternen:

O pequena da foto é um telescópio refletor da GSO de 12" com 1500mm de distância focal, buscadora 8x50, focalizador Crayford com redução 10:1!

Na verdade ele já estava comigo há umas 3 semanas, mas a Lei de Murphy (adendo 381 - Equipamentos astronômicos) diz o seguinte:

• Na aquisição de um equipamento astronômico, o céu permanecerá nublado e/ou sem condições de observação por um período extendido, que não será menor que uma semana.
• O tempo de céu nublado e/ou sem condições é diretamente proporcional ao tamanho da abertura.

Bem, explicado o ciclone que estacionou sobre o RS por 3 semanas!

Juntamente com o GSO, alguns outros equipamentos:

Ocular Meade 5000 UWA 24mm 82°

Ocular Skywatcher WF 15mm 66°

Ocular Orion Sirius Plössl 10mm 52°

Filtro Baader UHC-S 2"

Filtro Baader OIII 2"

Após um dia de muita chuva, muita umidade (a ponto de saturar a atmosfera e cair uma névoa fina igual vapor de chuveiro) lá pelas 22h, havia perdido as esperanças para hoje. Qual não foi minha surpresa ao olhar pela janela a meia noite e ver um céu bem limpo! Bora carregar o bicharoco pra fora!

Na prática:

Presidente Lucena – RS

Seeing 3/5

Transparência 7/10

MLV entre 5,5 e 6

O primeiro alvo foi algo que muitos diriam ser loucura tentar de cara, por ser um objeto que muitos dizem ser fantasticamente difícil, e que no meu local, se eleva a apenas 25°: a nebulosa do Véu, em Cisne!

Encontrar ela é barbada, só centralizar a buscadora em 52Cyg, de magnitude 4,2, tranquilamente visível a olho nu.

Usando a ocular de 24mm, que me dá um campo real de 1,31°, visualizo a estrela.... mas nada de nebulosa! Com visão avertida, algo, talvez algo esteja no campo, mas provavelmente era apenas desejo de ver mesmo... não havia nada.

Meta-lhe o filtro UHC!

Daí sim! Uma gaze tênue, mal discernível do fundo do céu é possível ser avistada! Muito fraca mesmo, visível somente com vista avertida.

Buenas, se é só isso.... mas vamos ao OIII.

Daí o bicho pegou!

O Véu não só é visível como uma faixa bem contrastante, mas como é enorme! A faixa que passa por cima da estrela não só é bem visível com visão direta (bem visível MESMO!), como o campo todo fica retalhado de pedacinhos de nebulosa, que agora tem um contraste fantástico com o fundo!

Circundando pela área, encontro mais dois filamentos grandes, o que seria o “meio”, que bem é mais largo na parte norte (parece um delta de um rio visto do espaço), e a parte oposta a 52Cyg, que é ainda mais densa e mais brilhante que a parte que passa sobre 52Cyg. Ela tem mais ou menos o dobro do tamanho da primeira parte e parece um anzol!

Sinceramente não acreditava que um filtro pudesse fazer tanta diferença assim! Usando o filtro OIII, a nebulosa adquire uma aparência “quase” de astrofoto, com muita nebulosidade, detalhes de variação de brilho na superfície, torções, etc. Só não tem cor nenhuma, claro, me apareceu cinza claro (e as estrelas muito esmaecidas e verdes, mas não me importei nem um pouco com isso!).

O segundo alvo foi M57!

Visível de cara como um pequeno oval brilhante na ocular de campo largo!

Usando a ocular de 15mm, dá para perceber uma estrelinha na borda do disco (verifiquei agora... mag 13,4     0_o  )

Não consegui visualizar a estrela central.

Usando os filtros, o contraste aumenta muito, permitindo visualizar com facilidade o buraco central (que aparece com uma região brilhante, mas um pouco menos que o anel em si). Não percebi cor nenhuma (na nebulosa fantasma de jupiter, percebo como azul esverdeado, mas vi em outro tele).

Próximo alvo M27!

A primeira coisa que me impressionou foi o tamanho, ela é ENORME! Umas 4x o tamanho de M57 brincando!

Sem filtros ela tem a aparência de um haltere! Com o UHC, as bolhas laterais se fecham, e com o OIII, fica parecendo uma borboleta gigante. Muitos detalhes de granulação e diferenças da brilho na superfície são visíveis, muito mais fáceis se visto com o OIII.

Aglomerado Coathanger (cabide): Aglomerado bem interessante e visível a olho nú, com formato de um cabide! Hum, interessante que as estrelas dele estão entre mag 5,6 e 6,6, e tenho certeza de ter visto o aglomerado todo a olho nu.... vou ter que reavaliar minha magnitude limite!

NGC7293 – Nebulosa da Hélice

Enorme! Visível tranquilamente na ocular de 24mm sem filtros, mas bem fraca, melhor vista usando visão avertida. Com filtros melhora e muito, o melhor é o OIII, quando ela fica com a aparência famosa nas astrofotos, com o buraco central enorme e dois anéis concêntricos! Muito brilhante e muito linda!

47 Tuc – Aglomerado globular

Astrofoto. Simples assim. Enorme! Cadeias de estrelas emanam do núcelo muito, muito condensado. Aparece literalmente como uma monte de açúcar cristal sobre veludo negro. Simplesmente fantástico!

M17 – Nebulosa Ômega

Na ocular de 24mm a nebulosa é bem visível, lembra um cisne sobre um lago! Com o filtro UHC, alguma nebulosidade tênue aparece ao redor, mas ela se transforma mesmo com o filtro OIII. Não parece mais um  cisne no lago, mas um cisne voando! Enormes filamentos nebulosos aparecem ao redor do cisne! Realmente fantástica! (deveria ter procurado a nebulosa da águia, mas acabei esquecendo!).

Estou muito feliz com a aquisição, pois a qualidade observada (somando tudo, céu muito bom, oculares boas, tele fantástico, filtros) superou e muito (muito MESMO) a minha expectativa!

Que venham mais céus limpos!